segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Êxodo 25:1 - 27:19
O final da porção da semana passada registra a ida de Moisés ao cume do Sinai, ao encontro de Deus, a fim de receber as mishpatim (leis) e as mitzvot (mandamentos) do Eterno, para depois ensiná-los ao povo.
Êxodo 24:18 – "E entrou Moisés pelo meio da nuvem e subiu ao monte, e esteve Moisés no monte quarenta dias e quarenta noites."
Na porção desta semana, Terumá, há como que uma pausa na seqüência das leis e mandamentos para registrar que Deus entregou a Moisés toda a descrição dos itens a serem utilizados e como deveria ser construído "um Santuário para a presença Dele", Mikdash – שדקמ. Estes eram os materiais a serem utilizados na construção do "Tabernáculo", Mishkan - ןכשמ.
A começar pelos materiais descritos, podemos perceber a riqueza de elementos bem como de detalhes em cada objeto, móvel, item do tabernáculo. Deus disse a Moisés para falar ao povo de Israel a fim de Lhe trazer "terumá", e desta terumá seria feito o tabernáculo.
המורת – Terumá: palavra hebraica que se origina da raiz – םור – "Rum", que significa: um presente (como que oferecido ao alto) especialmente em sacrifício ou como tributo; oblação; contribuição; levantamento de oferta. Há também a ideia de "louvor", "exaltação" Àquele que recebe a terumá.
Esta terumá tinha uma característica que foi ressaltada pelo próprio Deus. Ela deveria ser um ato voluntário. - "de todo homem cujo coração o impelir para isso, tomareis Minha terumá."
O que isto nos diz?
Deus estava dizendo que Ele queria ser exaltado, adorado, receber louvores por meio de ofertas voluntárias de todos que fossem impelidos a ofertar. Pois a característica da terumá oferecida estaria diretamente relacionada com a finalidade a que ela fosse usada. Uma oferta especial, nobre para uma finalidade nobre, adorar o Eterno.
Ela mostraria o coração de cada um do povo mas também o coração da nação inteira, ofertar terumá ao Eterno, do melhor que tivessem em suas mãos, não por obrigação ou por coação.
No deserto não havia minas de ouro, prata ou pedras preciosas. Também não havia tecelagens ou criação de animais raros e exóticos que serviam para produzir pigmentos a serem usados no tingimento dos tecidos. Estes elementos indicados por Deus a serem utilizados na construção do santuário eram materiais nobres e/ou raros, incomuns no deserto.
E agora, como resolver esta questão?
Por que Deus está querendo algo que é caro, raro ou difícil de ser providenciado?
Alguns poderiam pensar: "Ele disse isto porque quer que o povo fique pobre dando todas as suas riquezas ou porque quer que o povo se acabe só para dar o que Ele quer." Os que pensariam assim seriam aqueles mesmos que se queixariam de falta água, de falta de carne e de que no deserto tinha muita pedra e muito calor.
Outros diriam: "Deus quer estes itens porque Ele é o único Deus verdadeiro e único que merece ser adorado! Se ele nos pede isto Ele irá nos prover um meio para que providenciemos isto!"
Em verdade esta questão já havia sido resolvida de antemão, quando na saída do Egito. Naquela ocasião Deus disse aos "bnei Israel" para pedir presentes aos egípcios e que os egípcios lhes dariam de bom grado. Assim fizeram e saíram com grandes riquezas do Egito. Receberam presentes em ouro, prata, pedras preciosas, roupas finas e muitos outros utensílios que não temos listados na bíblia.
Agora Deus estava lhes dizendo: "Quem sentir no coração ofertar em honra a Mim e à casa onde pousará a manifestação da minha presença no meio de vocês, que me oferte, voluntariamente."
Desta maneira Deus estaria analisando qual era o "deus" dos corações do povo, e se neles havia maior apego a bens materiais, adoração a ídolos materiais, que honra a Ele.
Também estava ensinando que para se relacionar com ELE o homem não pode ter outro Deus, não pode ter nada mais valioso que ELE nem apego a nada material, seja qual for o seu valor.
Hoje em dia temos um mandamento semelhante em Malaquias 3:10. Onde Deus nos chama a oferecermos ofertas alçadas, em honra a Ele, que sirva para manutenção da casa onde está presente Seu nome. E mesmo hoje em dia Ele nos sonda por meio das ofertas, terumá, apresentadas diante Dele.
Não é o fato de dar que atende ao requisito. Se alguém dá algo de valor e até de grande valor mas o faz com mágoa no seu coração, por obrigação, contra a própria vontade, para impressionar outras pessoas e até como que para comprar alguma bênção de Deus, engana-se a si mesmo e Deus não está recebendo esta oferta.
Ap. Paulo nos ensina que o ofertar deve ser com liberalidade, assim como propôs no seu coração. Pois Deus vê o nosso coração. 2 Coríntios 9:7,8.
Em Marcos 12:41 – 44 Yeshua também nos ensina muito sobre isto quando se colocou próximo ao local das ofertas observando as ofertas e as pessoas que ali as depositavam. Fazendo da mesma forma que Deus nos observa, vendo os corações.
Ele ensinava aos discípulos, que não é a pessoa que dá maior quantia a que mais oferta, pois esta pode dar do muito que lhe sobra. Mas que a maior oferta parte daquela pessoa voluntariamente movida a ofertar com custo, peso, grau de sacrifício, indicando o esforço em demonstrar o valor Daquele a quem se oferta pelo valor presente na oferta entregue.
Esta terumá tinha um objetivo, ser usada na construção do mishcan. Quando é que o mishcan foi afetivamente construído?
Ele foi construído depois do pecado do bezerro de ouro. Como um sinal de que a presença da shechina do Eterno estava no meio de seu povo e para ser o único local de adoração. Meditar na palavra de Deus é maravilhoso. Podemos ver o cuidado de Deus em preparar o antidoto antes mesmo do povo pecar.
Deus passa para Moisés o projeto do tabernáculo que deveria ser construído no futuro, com todos os seus detalhes, que seria sinal de que Ele havia perdoado o pecado do povo, antes mesmo do povo haver pecado.
Deus prepara o antidoto antes mesmo de cairmos. Pois a ordem para a construção do tabernáculo foi dada mesmo, depois que o povo pecou, sofreu a consequência do pecado, se arrependeu e foi perdoado.
O pecado do povo afastou a shechiná do arraial e o tabernáculo seria o ponto de ligação onde a shechiná poderia retornar à terra.
No Salmo 23 podemos perceber este cuidado antecipado. O salmista Davi diz que antes mesmo que passemos pelo vale da sombra da morte, temos a certeza que o cuidado do Bom Pastor estará sempre presente. "Ainda que ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, tua vara e teu cajado me consolam."
Cada elemento indicado por Deus tinha um significado e um motivo para fazer parte dos 15 elementos que seriam usados na construção do mishcan, assim como o próprio tabernáculo possui tremendo significado para o judeu e para nós hoje.
Tabernáculo, morada, assim era o santuário construído para ser local da presença da shechiná do Eterno no meio de seu povo. Eu e você somos este tabernáculo hoje em dia, eu e você somos local da morada da shechiná do Eterno neste tempo que se chama hoje. Ap. Paulo afirma que somos morada de Deus em Efésios 2:22; ICoríntios 3:16; I Coríntios 6:19, 20.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Parashá Yitro – יתרו פרשה
A verdadeira conversão
Êxodo 18:1-12
A Parashá desta semana é Yitro (Jetro). Já podemos perceber pelo título desta parashá algo diferente, algo que nos salta aos olhos.
Sabemos que o título das porções de estudo da Torah, são sempre a primeira ou as primeiras palavras daquela porção. Neste caso o verso de Êxodo 18:1 começa com "Yitro", Jetro, nome do sogro de Moisés. Até aqui nada de diferente, mas o que há de diferente no título desta parashá?
Esta e outras poucas parashot possuem como título o nome de uma pessoa. Ao todo existem 5 parashot com nomes de pessoas dentre todas. O que isto lhe diz? São 9,2% das parashot com nome próprios de pessoas, isto não é uma regra mas exceção.
Sabemos que a Torah não tem nenhum registro em vão, por lapso ou descuido. Tudo que há registrado na Torah, ali está com um objetivo. Partindo deste pensamento podemos pensar que há algo de diferente ou especial nesta porção de estudo para que a faça ter o nome de uma pessoa. Ou pelo mérito desta pessoa, ou pelo demérito dela ou ainda por algo que a envolva e o Eterno quis usar de exemplo para o seu povo Israel.
Vamos começar analisando a pessoa e seu nome. Quem era Yitro?
Yitro, também conhecito como Reuel, era pai de sete filhas, que eram pastoras de ovelhas e dentre elas Tziporá foi dada como esposa de Moisés.
Ele morava e era uma pessoa influente na terra de Midiã, mesma região do feiticeiro/profeta Bilan (Balaão). Região onde hoje está a Jordãnia.
Alguns comentaristas dizem que ele era governante em Midiã, outros dizem que ele era sacerdote de cultos religiosos idólatras. A nossa tradução registra como sacerdote, porém esta palavra pode ser traduzida também como governante, ou oficiante ou homem da lei. Alguns comentários indicam que ele era um homem com muitas riquezas materiais e prestígio na sua terra.
Certamente ele já conhecia Adonai, ao menos de ouvir falar, desde quando Moisés chegou a Midiã fugindo do Egito e se tornou seu genro. Moisés certamente falou do Eterno a Jetro, seu sogro, nos anos em que ele viveu como pastor de ovelhas, 40 anos aproximadamente.
Porém este primeiro contato de Jetro com Deus foi apenas de ouvir falar e ficar no nível da mente, não descer ao coração.
Agora, ele novamente ouviu falar sobre o Eterno e como diz o texto: "ouviu acerca de tudo o que Deus tinha feito por Moisés e por Israel, seu povo; e como trouxe Israel do Egito."
Este novo relato chamou tanto a atenção de Jetro que o fez sair de sua casa, de sua comodidade, deixar sua posição de governante e/ou sacerdote de deuses pagãos, e ir em direção à presença do Eterno, יהוה.
Ele sabia que que onde estava o povo de Deus ali estaria Moisés, pois este era seu líder. Ele também sabia que onde estava o povo de Deus, Israel, ali também estava a presença de Deus, a glória de Deus.
A informação de que ADONAI havia julgado o Egito e seus deuses e havia praticamente destruído todo o Egito tinha se espalhado por todos os países e terras vizinhas e chegou a Midiã.
Jetro sabia que o Egito era um país poderosíssimo, o mais poderoso daquela época. Ele sabia que os deuses egípcios eram "poderosos" com os poderes das trevas e que eram grandes feiticeiros, bruxos e encantadores.
A fama do Egito corria por todas as terras. O que se falava era que jamais um escravo havia fugido do Egito. Falava-se que as fronteiras do Egito eram "fechadas" com feitiços poderosos. Assim como hoje em dia ouvimos que muitos fazem trabalhos de feitiçaria e/ou bruxaria para "fechar" seus corpos, como se fossem encantamentos para proteger seus corpos, suas fronteiras, seus limites.
Há relatos de que dentre os feiticeiros e conselheiros que serviam ao faraó da época estavam Bilan e o próprio Jetro.
Jetro sabia muito bem quem era o Egito, o que ele representava e o seu poder espiritual das trevas. Ele passou a ouvir sobre Adonai ao conviver com Moisés como seu genro.
Mas agora Moisés havia se tornado líder de um povo, havia se tornado grande profeta de Deus na terra e ao ouvir de tudo que Adonai havia feito por Moisés e pelo seu povo Israel, isto tocou Jetro, chamou sua atenção.
Ele reconheceu que o Deus de Israel não era mais um deus ou qualquer deus. Por tudo que ele conhecia do Egito ele sabia que o Deus de Israel era mais poderoso que todos os deuses do Egito, que eram os mais poderosos deuses da época. Isto tudo chamou a atenção de Jetro e o fez ir em direção ao Eterno. Jetro foi até onde estava o profeta de Deus, o povo de Deus, onde estava Deus.
No seu encontro com Moisés e após ouvir de Moisés tudo que o Eterno fez aos egípcios por causa do povo de Israel, Jetro fez sua publica profissão de fé em Adonai. Ele se rendeu ao Eterno, se converteu ao Eterno e declarou: "Bendito seja Adonai, que o salvou dos egípcios e do faraó, que salvou seu povo da mão pesada dos egípcios. Agora eu sei que Adonai é maior que todos os outros deuses, pois ele salvou os que eram tratados com tanta arrogância."
Neste mesmo momento Jetro ofereceu uma oferta queimada, holocausto, e sacrifícios a Deus. Oferta pela culpa, oferta pelo pecado, oferta de arrependimento selando a sua conversão. Agora não é mais o Jetro feiticeiro ou sacerdote idólatra. Agora era Jetro, servo do Deus Altíssimo.
Esta parashá se apresenta como o primeiro registro de conversão de um idólatra a Adonai. Mostra uma bela declaração pública de fé e crença no Eterno como único Deus verdadeiro. Como o Todo Poderoso.
Deste relato entendemos como ocorre o processo de conversão de uma pessoa ímpia. Jetro é este exemplo.
Esta pessoa ouve falar de que existe um Deus verdadeiro, que é o Criador de todas as coisas, que é Eterno e que é o Todo Poderoso. Estas palavras penetram em sua mente e são semeadas no terreno da mente. Na alma, como está escrito em Hebreus 4:12.
Esta semente plantada ali permanece, as vezes anos a fio, esperando um dia em que começa a germinar. Talvez você se pergunte: O que faz a palavra germinar?
Podemos pensar em vários aspectos que incomodam e despertam as pessoas ou que as tornam mais reflexivas ou sensíveis. Uma dificuldade pessoal, uma crise financeira, problemas de saúde, problemas nos relacionamentos interpessoais da família, etc. Não parece ser o caso de Jetro.
Ele já tinha ouvido falar de Deus mas o que o fez ir em direção ao Eterno foram os milagres e maravilhas realizados pelo Eterno para o seu povo, para o homem.
Deus usou um arbusto em chamas que não se consumia para atrair a atenção de Moisés. Ele permitiu o sofrimento do povo no Egito para despertar o povo a buscá-lo e para clamar por Ele. Ele usou os milagres realizados, que eram juízos sobre o Egito, como algo a atrair a atenção de Jetro.
Deus pode usar muitas coisas e/ou pessoas para atrair nossa atenção em direção a Ele e muitas vezes não percebemos que é Deus nos chamando. Porque estamos com nossos sentidos endurecidos, cauterizados pelo pecado que habita em nós, pela distância em que nos encontramos Dele.
Jetro bendisse ao Eterno, "Bendito seja Adonai!". Ele reconheceu e declarou que o Eterno é UM e o Todo Poderoso. Muitas pessoas também reconhecem que Deus é Deus e que é o único Deus, mas ficam por aqui.
Quero lhes dizer que até o diabo sabe e reconhece que Adonai é Deus, o único Deus. "Até o diabo é crente!" E ele, mais que nós humanos, sabe muito bem o quanto Deus é poderoso.
Onde está o diferencial na vida de Jetro?
Ele se rendeu e adorou ao Eterno e lhe ofereceu um holocausto e sacrifícios.
Os comentaristas dizem que ao ouvir todo o relato de Moisés ele bendisse ao Eterno e agiu! Pegou duma faca e circuncidou-se. Bem como serviu ao Eterno, apresentando sacrifícios a Ele.
Muitos vão às igrejas, conhecem Deus, ouvem sobre Deus toda semana, mas não possuem aliança com Ele, não foram circuncidadas no coração, nem servem ao Eterno com suas vidas. Estas pessoas não são nem estão vivendo no reino de Deus. Romanos 2:29.
Jetro teve o mérito de ter seu nome como nome de uma parashá por ter se convertido ao Eterno e haver se aliançado com Ele, deixando toda a sua vida no mundo, todo seu passado para se aliançar com Deus e o servir.
Quantos estão dispostos a deixar suas vidas passadas no mundo, onde eram alguma coisa, mesmo que pouca coisa, para começarem uma vida nova do zero no reino de Deus?
Quantos estão dispostos a entrar numa aliança com Deus pelo que ELE é sem se importar com quem se é?
Jetro passou por este processo! Teve sua vida transformada pelo Eterno!
E você?! Tem uma aliança com o Eterno?
Pr. Charles Augusto R. De Andrade
MIB – Casa de Adoração